segunda-feira, março 30, 2009

Balanços...



Três meses volvidos no novo ano e os meus balanços são os seguintes:


Este ano não começou bem e não se avizinha fácil. Sempre disse que seria um ano de mudanças e constato que as minhas previsões estavam correctas. No entanto, é preciso arranjar forças e seguir em frente, mesmo quando achamos que tudo parece estar prestes a desmoronar-se. É preciso reorganizar prioridades, vontades, e deixar que o tempo, por si só, vá colhendo os frutos do nosso esforço. E estes nem sempre aparecem a curto prazo! Tenho aprendido que para viver feliz é necessário ser muito paciente e perseverante, esperar pelo momento certo sem pressionar ou precipitar nada!
Tal como dizia Séneca : “Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida.” É o que farei e estou certa que, mais tarde ou mais cedo, poderei respirar fundo e sentir que cumpri a minha missão.

Férias, finalmente!

Tenho hoje o meu primeiro dia de umas merecidas férias! Este 2º período não foi muito longo, mas desgastante... Entre ter e dar aulas, estudo, ensaios, surgiram também uma série de problemas que me deixaram exausta, ao ponto de não querer mais pensar neles! Mas agora, embora não esteja ainda tudo resolvido, espero poder aproveitar estas férias da Páscoa para me dedicar à guitarra e focar as minhas energias naquilo que é de facto importante!
"A vida é demasiado curta para nos permitir interessar-nos por todas as coisas, mas é bom que nos interessemos por tantas quantas forem necessárias para preencher os nossos dias ."
Bertrand Russel

domingo, março 29, 2009

Teatro




E como ontem foi o Dia Mundial do Teatro, deixo aqui um poema fantástico do Herberto Hélder:

Poema acto III


O actor acende a boca. Depois os cabelos.
Finge as suas caras nas poças interiores.
O actor põe e tira a cabeça
de búfalo.
De veado.
De rinoceronte.
Põe flores nos cornos.
Ninguém ama tão desalmadamente
como o actor.
O actor acende os pés e as mãos.
Fala devagar.
Parece que se difunde aos bocados.
Bocado estrela.
Bocado janela para fora
Outro bocado gruta para dentro.
O actor toma as coisas para deitar fogo
ao pequeno talento humano.
O actor estala como sal queimado.
O que rutila, o que arde destacadamente
na noite, é o actor, com
uma voz pura monotonamente batida
pela solidão universal.
O espantoso actor que tira e coloca
e retira
o adjectivo da coisa, a subtileza
da forma, e precipita a verdade.
De um lado extrai a maçã com sua
divagação de maçã.
Fabrica peixes mergulhados na própria
labareda de peixes.
Porque o actor está como a maçã.
O actor é um peixe.
Sorri assim o actor contra a face de Deus.
Ornamenta Deus com simplicidades silvestres.
O actor que subtrai Deus de Deus, e
dá velocidade aos lugares aéreos.
Porque o actor é uma astronave que atravessa
a distância de Deus.
Embrulha. Desvela.
O actor diz uma palavra inaudível.
Reduz a humidade e o calor da terra
à confusão dessa palavra.
Recita o livro. Amplifica o livro.
O actor acende o livro.
Levita pelos campos como a dura água do dia.
O actor é tremendo.
Ninguém ama tão rebarbativamente como o actor.
Como a unidade do actor.
O actor é um advérbio que ramificou
de um substantivo.
E o substantivo retorna e gira,
e o actor é um adjectivo.
É um nome que provém ultimamente
do Nome.
Nome que se murmura em si, e agita,
e enlouquece.
O actor é o grande Nome cheio de holofotes.
O nome que cega.
Que sangra.
Que é o sangue.
Assim o actor levanta o corpo,
enche o corpo com melodia.
Corpo que treme de melodia.
Ninguém ama tão corporalmente como o actor.
Como o corpo do actor.
Porque o talento é transformação.
O actor transforma a própria acção
da transformação.
Solidifica-se. Gaseifica-se. Complica-se.
O actor cresce no seu acto.
Faz crescer o acto.
O actor actifica-se.
É enorme o actor com sua ossada de base,
com suas tantas janelas,
as ruas -
o actor com a emotiva publicidade.
Ninguém ama tão publicamente como o actor.
Como o secreto actor.
Em estado de graça. Em compacto
estado de pureza.
O actor ama em acção de estrela.
Acção de mímica.
O actor é um tenebroso recolhimento
de onde brota a pantomina.
O actor vê aparecer a manhã sobre a cama.
Vê a cobra entre as pernas.
O actor vê fulminantemente
como é puro.
Ninguém ama o teatro essencial como o actor.
Como a essência do amor do actor.
O teatro geral.
O actor em estado geral de graça.

Era suposto...



Assusta-me pensar que, em pleno século XXI, ainda existam pessoas que vivem limitadas nas suas fronteiras geográficas e sociais. Li um artigo na revista "Única" do Expresso que me deixou a pensar nisto. Trata-se de um artigo sobre dois jovens que nunca tinham visto o mar! Como é possível que ainda existam pessoas que nunca saíram das suas terras, ou lugares, e que não conhecem o mundo que existe à sua volta? Como é possível que ainda existam jovens, que serão o futuro deste país, cujos sonhos passam apenas por arranjar um emprego como bate-chapas ou plantador de eucaliptos? Esta é uma realidade que, infelizmente, ainda se encontra bem presente no nosso país. É certo que todas as profissões são necessárias, mas o que mais me indigna é que estes jovens não têm opções. As suas escolhas só podem ser dentro daquelas que conhecem e, decerto, não conhecem muito mais para além da agricultura ou pecuária. Entramos num Portugal rural, onde o mais importante parece ser o que as vizinhas acharão das nossas atitudes, os "cochichos" e boatos, onde ninguém nunca leu um livro, nem ouviu Bach ou Mozart... Estava longe desta realidade. Sei que há pessoas que o fazem por não quererem, não por não terem acesso... Mas o que é certo é que existem ainda muitas outras cujos horizontes estão limitados pelas placas que marcam a sua localidade, que não sabem o que é dar um mergulho nem pisar a areia... E é suposto sermos um país desenvolvido!

quarta-feira, março 25, 2009

Primavera


Estamos finalmente na Primavera e espero sinceramente que ela traga sol, muito sol! Tenho a sorte de poder viver junto da praia e hoje foi um daqueles dias em que me apetecia mesmo deitar na areia, sentir a brisa quente e ouvir as ondas rebentarem... No entanto, apenas tive a oportunidade de ir dar uma olhadela, sem pôr sequer os pés na areia! O mar estava lindo e é curioso como perante a imensidão do oceano nos sentimos tão pequenos! A natureza é mesmo fantástica! Só alguém muito insensível pode ficar alheio a tamanha beleza!

terça-feira, março 24, 2009

Ensaio sobre a Visão

Confesso que tive alguma dificuldade em escolher um título para este blog. No entanto, no meu exercício de pensamento, cheguei à conclusão de que "Ensaio sobre a Visão" seria o adequado. Aos 15 anos li o livro "Ensaio sobre a Cegueira", de José Saramago e desde então esse é um livro que acompanha a minha vida. A genialidade do autor torna-me sua fã incondicional e tenho uma grande vontade de lhe poder dizer simplesmente: obrigada! Obrigada pela sua fabulosa obra (e quando me refiro a obra falo de todos os livros, não apenas deste), mas acima de tudo obrigada por existir e me ter dado a oportunidade que foi e ainda é folhear um livro seu! Penso que o título deste blog fará sempre alusão a essa obra e por isso me pareceu adequado. É também a minha forma de lhe poder dizer o "obrigada" que tanto gostaria. E porquê visão? Porque ainda sou jovem e acredito que ainda tenho muito para ver, apesar da cegueira em que por vezes pareço viver! Quero acreditar que, de facto, há muita coisa para ver, observar e reparar. Talvez quando tiver a idade de José Saramago passe a acreditar na Cegueira de que fala, que julgo não ser apenas física. Por enquanto ainda é cedo.