quinta-feira, junho 25, 2009

O dilema da incoerência e inconstância


incoerência
s. f.
1. Falta de coerência; qualidade de incoerente.
2. Fig. Discrepância; desconexão.


inconstância
s. f.
1. Falta de constância; volubilidade.
2. Instabilidade.
3. Infidelidade.



A incoerência é uma característica do homem. Tal como a inconstância. É impossível ser-se coerente em todos os aspectos e, como tal, constantes. Digamos que ambas são aliadas da evolução, mas apenas quando não utilizadas em excesso e em demasiadas situações quotidianas. Ser incoerente no pensar/agir ou vice-versa é a prova de que não se tem suficiente certeza naquilo que se acredita. É diferente de mudar de opinião, que pode ser também interpretado como uma evolução, como sinónimo de maturidade. Contudo não há verdades absolutas e o que pensamos hoje pode não ser o que pensamos amanhã, ou umas horas depois. Estamos em constante mutação e a nossa percepção altera-se, o que leva a que determinados aspectos que outrora considerámos verdades absolutas sejam postos em causa tempos depois. Também isto é incoerente. Se a incoerência é sinónimo de imaturidade, como pode ser simultaneamente sinal de evolução? Penso que a fronteira entre ambas as situações é ténue. Há determinados valores ou ideais aos quais devemos ser fiéis e constantes, pois só assim conseguiremos crescer enquanto indivíduos, sem constantes oscilações de personalidade. Contudo, tem que haver uma margem para a incoerência e a inconstância que nos são inatas, sob pena de nos tornarmos obsoletos e ultrapassados por não ter a capacidade de questionar e de evoluir com as respostas a essas questões.

Não é fácil encontrar o equilíbrio. Penso que Freud terá a solução:

"Diz-se que quem modifica de tempos a tempos as suas ideias não merece qualquer confiança, porque faz supor que as suas últimas afirmações são tão erróneas como as anteriores. E, por outro lado, quem mantém as suas primeiras ideias e não as abandona facilmente, passa por teimoso e iludido. Perante estes dois juízos opostos da crítica, há só uma opção a fazer: permanecer-se aquilo que se é, e seguir-se apenas o próprio juízo."


Sigmund Freud, in 'As Palavras de Freud'

Um comentário:

  1. Mas que erudita! A ler Freud e tal... Se fosse eu a escrever poderia certamente ser sobre um ou dois professores. E mais não digo!

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