sexta-feira, janeiro 24, 2014

Este país não é para músicos

Passados 27 anos chego à conclusão que este país não é para músicos. Nós, músicos [e artistas no geral], não conseguimos viver em Portugal com a nossa arte. Por muito que nos esforcemos, que queiramos tocar, que procuremos apoios e nos reinventemos de mil e uma formas, somos uma espécie à parte nesta sociedade onde a arte é cada vez mais um elemento acessório e dispensável. Há uns anos, quando decidi seguir música, tinha fé que a nova geração conseguisse mudar isso. Tinha fé que olhasse para a cultura como algo fundamental e essencial para o país, que encarasse os artistas como peças-chave da sociedade. Não falo apenas de músicos. Falo de todos: pintores, escultores, bailarinos, actores... Mas enganei-me. Esta geração não mudou grande coisa. Temos excelentes artistas num país onde não se respira cultura; onde, pelo contrário, a arte vai morrendo um pouco mais a cada dia que passa. Um país que vibra com Cristiano Ronaldo e Eusébio, mas que mal conhece a obra de Pessoa ou Saramago.

Se nos cabe a nós, artistas, mudar isso? Cabe. Mas também cabe ao governo, às escolas e universidades, às grandes empresas e instituições. Acontece que parecem sempre haver outras prioridades, com crise ou sem crise, com dinheiro ou sem dinheiro. Não são precisos milhões para mudar isto, apenas algo que existe pouco a quem tem poder para o fazer: vontade.

Este não é um texto para me queixar, para dizer mal do país e do estado da cultura [da música, em particular] em Portugal. É um post que retrata, só e apenas, a conclusão a que cheguei após tantos anos. E é por chegar a ela que começo a pensar que posso fazer ainda muito mais na minha vida, que por muito que goste de música, também me vejo a fazer muitas outras coisas. O que não quero é ser alguém frustrado por não ter forma de se sentir realizado na sua área, que diz mal de tudo e de todos com um ressentimento que o corrói diariamente. Nunca fui de ficar parada à espera que as coisas acontecessem. Nós criamos as nossas oportunidades e escrevemos o nosso futuro, por isso, vou-me pôr a caminho.


P.S.: Gosto mesmo muito do Robin Sharma!!

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