quinta-feira, maio 21, 2015

Sobre saber dizer não

Tenho-me apercebido nos últimos tempos que o meu nível de paciência para coisas que me fazem perder tempo é cada vez mais diminuto. Se antigamente ainda havia em mim uma réstia de resignação perante a inevitabilidade desses momentos, tal tem vindo a desaparecer de forma acentuada, sem um período intermédio que me permita uma gradual adaptação a essa nova realidade. Não sei se é fruto da idade (que a ninguém poupa) ou de um simples cansaço extremo, mas sei que cada vez mais me apetece dizer não àquilo que, de forma ridícula, me suga as energias e um dos bens mais preciosos que tenho: tempo. E será isto errado? Dizer não só porque sim? Não creio. Aliás, quanto mais reflito sobre este assunto, mais certa fico que não só não é errado dizer não, como é fundamental.
Dizer um não redondo, com todas as letras, tem um efeito bastante libertador, quase terapêutico, na medida em que nos desamarra daqueles filtros que vamos ganhando ao longo da vida, daquelas pseudo-cortesias que, no fundo, apenas servem (na maioria das vezes) para nos desviar do nosso caminho. Se limpamos as nossas casas e deitamos fora todo o lixo que nelas existe, porque não havemos de fazer o mesmo com as nossas vidas? Porque não haveremos nós de decidir o que é lixo e deitá-lo fora sem qualquer tipo de  constrangimento? Não sou minimalista, mas tenho que admitir que a tralha que carregamos connosco é muitas vezes um fardo demasiado pesado, que nos impede de dar passos mais largos em busca daquilo que são os nossos verdadeiros interesses, em busca de uma vida verdadeiramente livre. São essas pequenas amarras, uma aqui, outra ali, que nos fazem chegar ao fim do dia exaustos e frustados, com a sensação de que não evoluímos em nada e que perdemos mais um dia das nossas vidas. Assim, de forma inútil e despropositada. São esses filtros, corolários de uma vida em sociedade, que nos vão roubando valiosos minutos de vida e cuja soma pode ser incrivelmente assustadora. Porque uma coisa é perder tempo, outra coisa é gastá-lo de uma forma inteligente e proveitosa. 
Mas desengane-se quem pensa que só os outros nos roubam tempo e energia, porque, na verdade, somos nós os principais causadores desse desperdício. Somos nós quem, na grande maioria das vezes, não sabemos dizer não às múltiplas solicitações de que somos alvo; somos nós que, sob inúmeros pretextos, vamos inventando desculpas para tornar algo completamente acessório em algo indispensável; somos nós quem não resiste a espreitar as redes sociais, permitindo que os dois ou três minutos que dizemos sempre que vamos perder com isso, se transformem em dez, ou vinte, ou trinta...
A escassez de tempo é uma realidade e contra ela nada podemos. Mas podemos, sim, saber onde e com o quê o queremos despender. Por isso, quando me apetecer dizer não, vou dizê-lo. Pode parecer mal, mas faz-me bem.
 

Um comentário:

  1. Não somos nós que temos menos tempo e paciência.

    Há é cada vez mais coisas a competir por esse tempo. De 2 passamos a 2000 canais de televisão.

    Em vez de poder comprar um LP de vez em quando, temos agora milhões de musicas ao dispôr.

    De dois ou três amigos que encontravamos diariamente, temos que atender a milhares virtuais.

    Lembro-me de um dia ter acabado de ler o que havia em casa dos meus pais. Haverá alguém que acabe de ler a internet?

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