terça-feira, setembro 15, 2009

Infância


Quando somos crianças, achamos que a vida é feita de risos, de abraços e de amigos. Acolhemos cada pessoa no nosso coração achando que será para sempre. Não há maldade, competição, desilusões e as poucas tristezas que temos passam quase sempre depressa...


A infância é o nosso melhor estádio. É com ela que nos formamos e cultivamos as sementes do nosso futuro. Depois, pouco a pouco,  vamos aprendendo a aceitar que nem tudo será sempre assim! Que os amigos de outrora, com quem passámos grande parte dos nossos dias, não ficarão sempre connosco. Que cada um segue o seu caminho, muitas vezes bastante diferente, e que é muito difícil que se voltem a cruzar. Que se trabalha cada vez mais para conseguir alcançar um sucesso que é sempre relativo e que nos obriga a colocar outras coisas em segundo plano. Que a sociedade é feroz e nos passa por cima à mínima distracção. Que os dias, outrora cheios de risos e brincadeiras entre amigos, são passados num frenesim constante, num stress previsivelmente mortal e esgotante, na luta pelo melhor lugar em tudo!


Vejo pelos meus alunos, que as crianças de hoje não são como as crianças que eu fui. Não é uma crítica, porque o que é certo é que muita coisa mudou, mas sim uma constatação que, nalguns aspectos me entristece. Hoje as crianças vivem demasiado ocupadas para poderem brincar. Brincar tornou-se um luxo que, mesmo quando é feito, é feito com pressa e correria. Recorrem a consolas, computadores, uma panóplia de meios audiovisuais que lhes corta a imaginação e quebra o seu desenvolvimento. A televisão entra-lhes pela casa adentro horas a fio e, no fim, que aprenderam com isso??
É certo que nem tudo é negativo e que nem todas as crianças fazem parte desta massa domesticada pela tecnologia, mas este é, sem dúvida, um aspecto que me preocupa, tendo em conta que estas crianças serão o futuro desta Humanidade cada vez mais em risco de ruptura!


A infância transformou-se numa fase de pré-estádio adulto, com crianças assoberbadas por milhentas actividades extra-curriculares, cargas horárias inadaptadas à sua idade, pressões escolares e familiares para ser sempre o melhor em tudo, colégios elitistas que tentam educar em massa e não valorizar a especificidade de cada um! Mais tarde ou mais cedo, teremos que parar para pensar que este não será o caminho para o futuro. Que à escola compete um grande papel na formação e educação de uma criança, mas que é isso mesmo, uma escola, e não um depósito! E que são os pais que os devem orientar, ensinar, ajudar, em vez de os inscreverem em actividades com a justificação de ser um investimento. Porque o verdadeiro investimento reside na atenção, no saber ouvir, no tentar perceber o que cada criança pensa e sente, no saber dizer não na altura certa e sim quando é caso disso. Isto sim, é um investimento. Tudo o resto é supérfluo.

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